Ontem a minha irmã chegou a casa completamente destroçada.
Ao sair das aulas descobriu que alguém lhe bateu no carro e fugiu. Amolgaram e rasparam a tinta do lado do passageiro.
Neste mundo existem pessoas assim, irresponsáveis, sem civismo algum, com pénis minúsculos, mau hálito e joanetes.
Felizmente a minha família só fez mulheres que não se entregam ao desespero sem dar luta.
Depois de nos ter dito o que aconteceu, ainda entre lágrimas, contou-nos a boa noticia: “Nem tudo é mau, o Pingo Doce tem um vinho que até é bom por apenas 2€!”, dito isto sacou da garrafa que tinha dentro da mala.
Servi-lhe o jantar e um bom copo de vinho, claro está que a minha irmã mais nova e eu fizemos-lhe companhia para o vinho, e depois fui com ela à garagem para ver os estragos.
Após um breve exame à viatura eis o que pude apurar:
- O suspeito é um homem, todo ele mediano, com bigode farfalhudo no qual podemos encontrar vestígios de sande de courato, cerveja e outras substâncias. Solteiro ou prisioneiro de um casamento falido. Decidi chamar-lhe Heitor.
O Heitor, depois de um dia de trabalho decidiu, como sempre, dar um passeio antes de voltar para casa. Já sabemos que o Heitor não é um homem feliz e descura a sua higiene pessoal, o que explica a sua presença naquele estacionamento, usado apenas por quem vai à Universidade, Igreja das Testemunhas de Jeová, ao Bar 1,2,3, ou às provedoras de serviços rápidos e baratos que por ali pululam algumas até com pulgas.
Após uma bifana e algumas cervejas, o tudo afagado com um bagaço, no bar da estação (10.95€), o Heitor foi tratar do seu ego e necessidade de esquecer as frases violentas e humilhantes das quais é alvo (preço sob consulta). De regresso ao carro com uma breve paragem para aliviar a bexiga à porta da Igreja o Heitor lá consegue, com um olho aberto e outro fechado na tentativa de focar a fechadura, abrir a porta e sentar-se ao volante.
Inebriado pelo consumo em excesso de bebidas alcoólicas, bifana frita em óleos não aprovados pela ASAE e a breve mas fatal exposição aos eflúvios de perfumes baratos, o Heitor viu os seus reflexos diminuídos e não conseguiu destorcer o volante a tempo, amassando de forma severa o carro NOVO da minha irmã.
Pela forma e altura das marcas deixadas no carro NOVO da minha irmã, posso afirmar que o Heitor conduzia uma carrinha de serviço, branca e de caixa fechada. O que explica, mas não desculpa o facto de ter fugido. Estamos em Portugal, neste país os homens que bebem e usam o carro de serviço fora de horas, são sempre perdoados.
Prostrada, pálida e muito bem vestida, a minha irmã, que até ali permanecera em silêncio, perguntou-me numa voz que era apenas um sopro: “ Quanto achas que isto me vai custar? É só pintura ou chapa também?”, não se bate num homem que já está por terra, decidi dar-lhe um abraço forte e um beijinho, apoiando-a do melhor que pude no caminho de regresso a casa.
Ali, as 3 falámos sobre a melhor forma de tratar do carro e como anunciar ao marido dela o sucedido. Entre vinho, a leitura do post do Grilu, uma pausa para plastificar os telecomandos e a sábia frase da nossa irmã mais nova “ó mana, vá lá, não fiques assim. Amolgaram-te o carro, mas já viste que podia ser pior, imagina que eram os testículos do teu marido.”, lá a conseguimos animar um pouco.
Mais calma, aconchegámo-la desejando que aquela fosse uma noite sem sonhos.
Penso nas minhas irmãs, na força e carinho que nos une, nas batalhas que cada uma de nós travou e as que ainda temos pela frente e sorrio enquanto enxugo uma lágrima. Sinto-me em paz, vai correr tudo bem.
Obrigada Pingo Doce!
14 comentários:
Descreveste-me quase na perfeição, mas no entanto ontem não bati com o carro. Por pouco, mas não bati. O mesmo não garanto que suceda hoje.
Em próximos relatos, de preferência naqueles feitos a seguradoras ou a agentes da autoridade, omitam o facto da tua irmã carregar uma garrafa de vinho na mala.
já que não é o AD, só posso ser mesmo eu! hoje bati noutro carro.
não gosto de conduzir bêbado, mas se não fosse assim, não conduzia nunca!
AD,
achas que somos parvas? claro que vamos ficar caladas, não queremos partilhar.
tiagusgrilus,
já começaram os almoços de Natal na tua empresa?
(bateste? e estás bem?)
LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL
Nawita, soberbo relato! Não tão soberba a cena da tua irmã :( qd descobrirem quem foi, chamem-me. Já sabes q sou alta, agressiva e dou uns belos pontapés.
Nawita, digo-te isto ainda de lágrimas nos olhos de tanto rir: este deve ter sido o post mais hilário que li nos ultimos tempo, nem o A bate este tipo de escrita ( e olha que o A, diz que é espectacular e altamente) mas tu estiveste BRILHANTE!
A forma perspicaz e inteligente como chegaste ao género do criminoso, está de fazer inveja à
Agatha Christie.
Porquê que o AD acha que se está sempre a falar dele?
Higiene pessoal?!
Isso é o quê?
Bigode é que nunca!
Preferiria dizer boa-tarde ao Castelo Branco...
Até um destes dias (que o barco vai atracar)
Bj.
quantos litros é que ela comprou?
De nada, fui eu que amolguei essa caranguejola metida a carro.
Estou com a tua irmã mais nova! O que é preciso é ver o copo meio cheio.
Nisso do optimismo, claro, que no que respeita ao tinto é preciso vê-lo sempre a transbordar.
Preciso de uma secretária, ou de dormir horas suficientes.
Vani,
Obrigada. Conto contigo para quando o apanharmos, para tomar chá também ;)
Isa,
O A também não é mau lá no que faz.
Muitos anos a estudar a natureza humana, é isso que me permitiu perceber o que se tinha passado naquela noite.
Acho que o AD, por ser um homem multifacetado e estranho, reconhece-se em quase todos os personagens minimamente duvidosos.
Ou então pertence a um programa de protecção de testemunhas.
Rei,
Foste viajar? Onde? Ou estás a abandonar o barco?
Vicio,
uma garrafa, foi o suficiente para 3 naquela noite. 2 de nós ainda íamos conduzir.
Anónimo,
Boa tentativa, mas não te vou envia a Vani para te dar um correctivo.
Gata,
Nada como relativizar enquanto se beberrica um copo cheio de vinho.
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