Tinha 14 ou 15 anos quando o li pela primeira vez, escusado será dizer que na altura detestei todas as personagens do livro assim como toda a ideia de que se podia morrer por amor.
Que parvoíce! As pessoas morrem porque há guerras, doenças, fome, pestes, assassinos, agora por amor! E se eles queriam estar juntos que se esforçassem por isso, porque raio não fugiam?
Para mim tudo se resumia a dois idiotas que não conhecendo nada da vida se deixaram cegar pelo amor que sentiam, e a um pai tirano e possessivo que não queria ver a filha dele com aquele homem que ele não aprovava para a filha dele, decidindo então fechá-la, a filha dele, num convento.
Ali ficaram, a suspirar cada um para o seu lado, ai que te amo tanto mas o meu pai não deixa, ai que te amo tanto mas as nossas famílias odeiam-se, amam-se uma ova, a filha é minha quem manda sou eu.
Resultado, a loucura dos três levou a que uma rapariga nova, idiota, demasiado romântica e mimada, mas com direito à vida se deixasse morrer num convento, um rapaz de coração partido que morre a caminho do degredo e um pai a chorar a perda de um dos seus bens mais preciosos.
E a cereja em cima do bolo, a Mariana, que embora não correspondida, amava o Simão e atirou-se ao mar. Enfim, domingo à tarde na TVI.
Furiosa com aquilo estive quase a cometer o crime de rasgar o livro, felizmente, graças a um momento de lucidez, limitei-me a guardá-lo no fundo do guarda-fatos para não ter que o ver.
Na semana passada ao ver um episódio da anatomia de Grey, relembrei-me desta história pois uma das médicas tem que descolar dois adolescentes que, para os pais dele não mudarem de cidade, colaram os braços com super cola. Os miúdos, completamente apaixonados, passam o episódio todo colados um ao outro aos beijos, sob o olhar cansado e irritado do pai do rapaz. Ignoram tudo o que se passa à volta deles, apenas o outro existe, mais nada lhes importa.
Achei-os lindos!
Tive muitos namorados, desde muito novinha, daqueles a quem eu dava muitos beijinhos na cara, acompanhavam-me a casa, podiam dar-me a mão, mas basicamente eram os meus melhores amigos, com os quais eu gostava de conversar, jogar à bola, passear, ir à praia... desde que não fizessem demasiadas perguntas sobre o que eu fazia quando não estávamos juntos, ou me quisessem tocar demasiado, não percebia a necessidade de andarmos agarrados e ainda por cima aos beijos na boca!
O meu primeiro beijo de língua foi dado por um rapaz que, por me ver afastada das minhas amigas e ele acompanhado dos amigos, ganhou coragem e lançou-se na minha direcção derrubando-me com o ímpeto da sua paixão, enquanto espetava a língua dele na minha boca, eu, ainda em choque e com a cabeça a sangrar, deixei-me estar. Resultado, uma ferida na cabeça e um chupão, que nem era digno desse nome, no pescoço e o direito a ser gozada por me ter deixado apanhar.
No que diz respeito às loucuras, às decisões ousadas que fazemos por amor, sem um momento de reflexão, aquelas que tomamos porque sabemos que amamos o outro, queremos estar com ele e o resto não importa, porque encontramos no outro a razão de ser e o nosso coração bate não no nosso peito mas no dele ,não o fiz na adolescência mas sim aos 26 anos.
Embora espontânea e apaixonada, nunca deixei que aquilo que sentia por outrem me levasse a fazer algo sem primeiro reflectir, recusando-me a fazer algo que poderia não ser o melhor para mim ou para o outro, apenas porque estava apaixonada. Nunca permiti que os namoros me impedissem de viver e fazer tudo o que tinha planeado para mim, não deixava, por muito que me estivesse a divertir, que homem algum permanecesse mais de 48 horas em minha casa.
Sabia o que queria e investir-me numa relação faria com que tivesse de abdicar de outras coisas, o que me levava a não incentivar que o outro se investisse demasiado numa relação que, à partida, eu sabia infrutífera pois não ia haver, da minha parte, o mesmo investimento.
Pela primeira vez e contra tudo o que eu acreditava e queria para mim, quando o homem com quem eu namorava, em cujos lábios eu adorava perder-me, no corpo do qual adorava fundir-me e com o qual ainda não tinha nada em comum para além do facto de querermos estar juntos e de o fazermos muito bem, me perguntou se podíamos viver juntos, no espaço de um segundo pensei "é demasiado cedo, não estás habituada a partilhar o teu espaço e és demasiado independente, vais ter que passar a tomar decisões em função da vossa relação, a decisão acertada é dizer que não, respirei fundo e disse-lhe apenas uma palavra que resumia o que eu queria, o amor que eu sabia sentir por ele do fundo do meu ser e a certeza de que, por uma vez, me ia permitir a liberdade de poder estar a caminhar para a minha perdição, "Quero".
Volta Camilo, estás perdoado.